A agricultura familiar é responsável pela produção de 80% dos alimentos disponíveis para o consumo no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). No Brasil, a categoria também aparece como principal produtora de alimentos para consumo interno, segundo o Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária. Diante do cenário atual de crescimento populacional no mundo e da perspectiva de um aumento ainda maior nas próximas décadas, a classe dos agricultores familiares deve ser considerada peça fundamental para a garantia da segurança alimentar e nutricional de todos, tema que também está presente nas discussões da Agenda 203.
Atentos a essa questão, já nos anos 2000 surge a Associação Pedra Bonita, no município de Brasilândia, Mato Grosso do Sul. Com quase 20 anos de história, a instituição atuou por todo esse tempo na distribuição de alimentos para hortifrútis, escolas da rede pública e estadual, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) municipal e estadual, além de realizar doações de alimentos para o Hospital Dr. Júlio César Paulino Maia, Casa do Idoso de Brasilândia e a APAE.
A organização, em parceria com outras quatro associações da região, também é a idealizadora do projeto Agroflorestando em Comunidades, que tem como objetivo trabalhar em conjunto com agricultores familiares, na implementação do Sistema Agroflorestal (SAF) em 28 áreas de cultivo, em Brasilândia, Mato Grosso do Sul. O SAF é uma técnica de cultivo agrícola que permite o consórcio entre culturas, com tempos de colheita diferentes, mas que se complementam no processo de desenvolvimento, garantindo a oferta de alimentos variados em todas as épocas do ano.
Na visão de Alcides Frasnelli, presidente da Associação Pedra Bonita, o SAF tem importância indiscutível na economia de qualquer região. Alcides ainda coloca que esse sistema de produção pode resolver os desafios da agricultura familiar no Brasil, pois proporciona para os consumidores, alimentação de qualidade e, para as famílias agricultoras, autonomia de suas bases de recurso e diversificação de suas produções.
O PROJETO E A FUNDAÇÃO CARGILL
A iniciativa foi contemplada pela 4ª edição do edital da Fundação Cargill, fato que possibilitou o desenvolvimento do projeto ao longo de 2019 e permitiu a formação de uma rede entre as demais iniciativas selecionadas. Com a parceria, o projeto conseguiu captar todos os materiais e insumos necessários para a viabilização do SAF nas 28 áreas de cultivo, realizou mutirões, com a participação dos agricultores familiares envolvidos, para a implementação do sistema em todas essas áreas e possibilitou a venda dos alimentos produzidos com essa técnica de cultivo.
Os maiores desafios e aprendizados deste ano, de acordo com Frasnelli, foram a estruturação, das áreas de cada SAF, que demandou a capacitação dos produtores para que introduzissem a prática de planejamento do plantio; a rotina de prestação de contas dos associados, para manter a transparência na execução do projeto; a mobilização dos beneficiados para a realização dos mutirões, com o intuito de minimizar os esforços e atender os prazos de plantio; e o amadurecimento no gerenciamento de projetos.
Superados os desafios, os alimentos produzidos ao longo do ano garantiram a alimentação das famílias produtoras e o excedente foi comercializado em feiras do município, ou destinado para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), programa que oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública. Além disso, parte foi direcionada para o Programa Protege Brasilândia, iniciativa municipal voltada para o auxílio nutricional e financeiro de pessoas em vulnerabilidade social.
Todas essas realizações, segundo Frasnelli, garantiram a geração de renda e segurança alimentar das famílias envolvidas, com a capacitação técnica dos agricultores, a criação de uma rede entre as comunidades envolvidas e as famílias beneficiadas e a articulação entre os produtores e o poder público.