Há o que fazer para combater o desperdício alimentício na colheita?
Perdemos alimentos e uma parte significativa de nossa população carece de alimentação equilibrada e de uma qualidade de vida melhor.
De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), a produção total de alimentos no mundo atinge atualmente cerca de 3,8 bilhões de toneladas por ano.
Colocado entre os três maiores produtores mundiais (juntamente com a China e os Estados Unidos), o Brasil produz 353 milhões de toneladas de alimentos, incluindo grãos, carnes, frutas, hortaliças, açúcar, cacau, café e outros itens, o que corresponde a aproximadamente 9% da produção mundial.
Apesar das dificuldades geradas pela crise em nossa economia, o agronegócio vem crescendo em nosso país, e alguns fatores contribuíram para isso:
- Temos uma extensa área de terra cultivável;
- O clima favorece uma produção diversificada;
- A capacidade de nossa produção progrediu rapidamente;
- O desenvolvimento tecnológico foi expressivo;
- Houve um aumento natural da demanda.
E onde acontece o desperdício de alimentos?
No entanto, todas essas boas perspectivas não nos deixam esquecer que no Brasil são desperdiçadas 41 mil toneladas de alimentos anualmente, enquanto a fome afeta 14 milhões de pessoas no país (dados da FAO). O Brasil é considerado um dos dez países que mais desperdiçam alimentos em todo o mundo.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o desperdício de alimentos no Brasil acontece em toda a cadeia de produção:
- 10% do que é colhido se perde ainda no campo
- 50% durante é desperdiçado no manuseio e transporte
- 30% perdido na comercialização e abastecimento
- E 10% é jogado fora nos supermercados, restaurantes e em nossas próprias casas
Para o futuro o que se espera é produzir cada vez mais em menos áreas; aumentar a produtividade com pesquisas, eficiência da mecanização e aprimoramento das técnicas de irrigação, além de evoluir no uso adequado de agrotóxicos.
Plantar e colher ajudam a reduzir a perda de alimentos
Mesmo que as perdas ocorram em toda a cadeia produtiva, quando focamos nas primeiras etapas do processo, ou seja, plantio e colheita, Murillo Freire, pesquisador da Embrapa, nos alerta que os fatores que mais influenciam essas perdas dizem respeito à falta de infraestrutura adequada: plantio de variedades inadequadas para o terreno, falta de correção do solo e de adubação, aplicação imprópria de agroquímicos e manuseio incorreto pós-colheita.
A acrescentar que o bom uso do solo reflete não só nas lavouras, mas também na pecuária, pois torna as pastagens mais produtivas.
As grandes empresas de produção e processamento de alimentos em todo o mundo têm tido a preocupação de colaborar para a diminuição das perdas, investindo em inovação tecnológica e desenvolvimento de melhores práticas, contribuindo assim para atingirmos mais facilmente um padrão de alimentação sustentável.
Algumas dessas empresas trabalham com milhões de agricultores para ajudá-los a aumentar a produtividade, assegurando uma utilização responsável do solo, promovendo as práticas agriculturais que apoiam um futuro em que a sustentabilidade tenha um papel mais relevante, além de investir no fortalecimento das comunidades agriculturais.
São várias as iniciativas nessa direção, entre as quais se destacam:
- O treinamento dos produtores, que recebem ajuda para cultivar as plantações e cuidar do rebanho com uma maior responsabilidade ambiental, além de melhorar a produtividade e os recursos de preservação. Também os pequenos produtores são instruídos sobre as melhores práticas na agricultura, tornando mais acessíveis os insumos – como sementes e fertilizantes. Além do mais, são incentivados a formar organizações corporativas, criando uma capacidade colaborativa e fortalecendo assim as comunidades.
- A implantação de recursos tecnológicos – fazer a tecnologia chegar às mãos de pequenos produtores é essencial para que eles possam contribuir ainda mais para um futuro sustentável e com alimentos seguros.
É sempre complicado o processo de diminuição das perdas na colheita?
Às vezes, expedientes nem tão complexos – como aperfeiçoar os tratamentos pré e pós-colheita e a adequação de embalagens – podem ajudar bastante a minimizar os efeitos da infraestrutura deficiente e do manuseio inadequado dos produtos, especialmente no caso de hortaliças e frutas.
Devemos ressaltar, porém, que, nesse sentido, às vezes é muito mais fácil construir estruturas adequadas do que transformar a mentalidade do produtor.
No Brasil, a Embrapa tem um projeto voltado aos pequenos agricultores de hortaliças para otimizar o manuseio durante a colheita. O objetivo é fazer com que os produtos sejam menos afetados, protegidos de condições adversas e menos machucados, o que se consegue construindo em cada propriedade, conforme proposta da Embrapa Hortaliças, uma estrutura fácil de montar – de ferro e lona –, que modifica o manuseio e armazenamento dos produtos, permitindo que a hortaliça colhida seja logo levada à sombra após a colheita.
Também é indicada a utilização de uma peça de madeira inclinada, semelhante a um cavalete, para escoar os produtos selecionados, além de se usar um carrinho que transporte o produto até o espaço onde será manuseado.
Falta ainda no país uma cadeia de frio bem instalada, que possa contribuir para a melhor manutenção dos produtos, garantindo a segurança alimentar.
Pelo que vimos, não é fácil, mas não é impossível diminuir perdas na colheita. Muitas pesquisas são elaboradas nessa área, especialmente no hemisfério norte, e seus resultados podem ser adaptados à nossa realidade e agregados a todas as ações já descritas.
As questões envolvidas nas etapas seguintes do processo de produção de alimentos, que serão abordadas em matérias futuras, são bastante diversificadas e não menos importantes para alcançarmos uma melhor distribuição e combate ao desperdício de alimentos.
Fontes: