Comfort Food: comida para o corpo e para a alma

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Comfort Food: comida para o corpo e para a alma

Em 1908, o escritor francês Marcel Proust atribuiu ao paladar e ao olfato a função de “convocar o passado”.

Na obra “Em Busca do Tempo Perdido”, publicado entre os anos de 1913 e 1927, o sabor das madeleines e de uma xícara de chá ativam no protagonista as lembranças de sua infância.

“No mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa… De onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligado ao gosto do chá e do bolo, mas que o ultrapassava infinitamente e não devia ser da mesma natureza.”

Mas o que é Comfort Food?

Mais de 80 anos depois da publicação da obra – já na década de 90 – a gastronomia incorporou este conceito, dando a ele o nome de comfort food.

Segundo artigo da Revista Contextos da Alimentação (Senac), publicado pela professora da Universidade Anhembi Morumbi, Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes, a expansão da industrialização alimentar, e a globalização de ingredientes e de hábitos alimentares, fomentaram o aparecimento de discursos e movimentos vinculados a uma nostalgia alimentar que, a partir de diferentes premissas, pregam a valorização de uma alimentação mais natural.

“Neste contexto, as bases de reivindicação extrapolam as questões relacionadas à sustentabilidade ambiental e ao equilíbrio nutricional, e avançam rumo aos aspectos culturais e emocionais relacionados ao ato alimentar. É neste quadro que o termo comfort food foi incorporado ao vocabulário gastronômico”.

No Brasil, a cronista e gastrônoma Nina Horta utilizou o termo “comida da alma” em seu livro “Não é Sopa” (1996), definindo-o da seguinte forma:

Comida da alma é aquela que consola, que escorre garganta abaixo quase sem precisar ser mastigada, na hora da dor, de depressão, de tristeza pequena. Não é, com certeza, um leitão à pururuca, nem um menu nouvelle seguido à risca. Dá segurança, enche o estômago, conforta a alma, lembra a infância e o costume” (Horta, 1996, p.15-16).

O professor de Gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, Marcelo Neri, explica que as comfort foods têm algumas características específicas. A primeira delas é o uso de ingredientes naturais. Consequentemente, a segunda é a exigência de maior dedicação ao preparo.

“Não é uma comida rápida de se preparar, até porque o uso de ingredientes naturais exige mais tempo e envolvimento na preparação”, explica.

Outra característica, segundo Neri, é que normalmente as comfort foods são comidas quentes. “Geralmente as pessoas associam o conforto à lembrança de uma comida mais quentinha. É difícil encontrar alguém que tenha uma memória afetiva relacionada a uma salada.

Portanto, as comfort foods são mais calóricas. É aquela polenta com ragu, o creme de mandioquinha…”, exemplifica.

Mas o professor ressalta que comfort food é algo personalizado e, portanto, há sempre exceções.

“Ela remete às vivências de cada um, às lembranças, e leva a maioria das pessoas a pensar em suas infâncias, nas pessoas que cozinhavam para elas quando eram crianças”.

Neste sentido, o movimento de comfort food tem também um importante papel na preservação de receitas e sabores. “é uma comida carregada de afeto”, sintetiza.

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