Alimentação em Foco conversa com Murillo Freire sobre perdas e desperdício de comida no Brasil
“Não há uma metodologia adequada para a realidade brasileira e por isso não podemos dizer com precisão a quantidade de alimentos que é perdida ao longo de toda a cadeia produtiva”
Desde 2013, quando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a ONU (Organização das Nações Unidas) lançaram a iniciativa “Save Food”, diversos países iniciaram campanhas para promover o consumo e produção sustentáveis e o combate ao desperdício de alimentos.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sendo que, um deles é meta 3 do objetivo 12 (Consumo responsável) que preconiza “Até 2030 a redução à metade o desperdício mundial de alimentos per capita nas vendas do varejo e consumo e reduzir as perdas de alimentos nas cadeias de produção e distribuição, incluindo as perdas antes da colheita…”
De acordo com o website da Embrapa, além de enfrentar perdas elevadas em toda a cadeia produtiva incluindo a fase pós-colheita, sendo que o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos, também conta com desperdício no fim da cadeia, ou seja quando o alimento chega ao consumidor.
Mas, o que é perda e o que é desperdício?
Existe uma metodologia ideal que avalia a perda dos alimentos no Brasil? Para responder a estes questionamentos o Alimentação em Foco conversou com Murillo Freire, Pesquisador da Embrapa. Confira o bate papo abaixo:
Qual a metodologia para avaliação de perda alimentar no Brasil?
Murillo: Não há uma metodologia adequada para a realidade brasileira e por isso não podemos dizer com precisão a quantidade de alimentos que é perdida ao longo de toda a cadeia produtiva. Só vamos conseguir mensurar adequadamente, quando tivermos uma metodologia padrão que atenda a realidade brasileira.
Segundo a meta 12.3, temos que reduzir em 50% o desperdício no Brasil, mas só poderemos chegar a esse número, quando, primeiro, conhecermos quanto desperdiçamos.
Quem vai ganhar quando conseguirmos diminuir o desperdício de comida?
Murillo: Essa resposta é bem simples. A sociedade como um todo. Com a redução no desperdício de alimentos no Brasil também economizamos energia, água, insumos, mão de obra, adubo, fertilizante, emissão de gás e uma série de outro fatores que vão afetar, de forma positiva, toda a sociedade. E é justamente isso que precisamos entender. Precisamos definir como iremos trabalhar e com quais os grupos de alimentos. Carnes e pescado? Frutas e Hortaliças?…
>Qual é a diferença entre perda e desperdício de alimento?
Murillo: As perdas ocorrem em toda a cadeia produtiva desde o plantio até o consumidor, devido à falta de infraestrutura adequada. O que é isso? Plantio no local errado e escolha inadequada da variedade, falta de correção do solo, falta de adubação, aplicação de agroquímicos feita de maneira errada, embalagens, manuseio pós-colheita, transporte e logística inadequadas. Essa perda não é intencional, porque não é feita de propósito. O que acontece é a falta de estrutura.
Já o desperdício ocorre no momento da venda e na utilização do consumidor. É o caso de produtos com data de validade vencida, produtos sem padrão comercial, sobra de alimentos ocorrida em restaurante, hotel, residências. Neste caso, o desperdício alimentar é intencional. Você sabe quando está jogando o alimento fora.
Fome no Brasil: é possível acabar com ela por meio da redução do desperdício alimentar?
Murillo: Não. Nunca podemos dizer isso porque é um aspecto que não está sob nossa alçada. O que podemos dizer é que conseguiremos diminuir o grupo de pessoas com insegurança alimentar no Brasil. Se adotarmos as práticas recomendadas e conseguirmos desenvolver uma metodologia adequada, certamente com a educação do consumidor haverá uma redução gradativa dos grupos de risco.