De acordo com dados do IBGE, a população idosa no Brasil é atualmente de 22,9 milhões (11,34% da população), e a estimativa é de que, nos próximos 20 anos, esse número mais que triplique.
Como envelhecer com saúde?
Envelhecer com saúde passa a ser o grande desafio das atuais gerações, que têm hoje uma estimativa de vida ao nascer de 73,8 anos. As mudanças trazidas com a idade têm reflexos em inúmeros aspectos da vida cotidiana. A nutrição é um deles.
A nutricionista Mirian Najas, diretora do Núcleo de Estudos Clínicos em Sarcopenia e professora da disciplina ‘Geriatria e Gerontologia’ na UNIFESP, explica que, com o envelhecimento, o paladar fica alterado e a pessoa passa a sentir menos o sabor da comida. A consequência é uma redução no apetite.
Além disso, a digestão também se torna mais lenta, causando a rejeição a certos alimentos. Em alguns casos, a perda de dentes dificulta a mastigação. E, considerando a realidade brasileira, ainda há questões relacionadas à situação econômica, que leva muitos idosos a ter sua renda diminuída, limitando o acesso do idoso a uma alimentação mais equilibrada e de qualidade.
Alimentação do idoso
Segundo a nutricionista, uma alimentação adequada para o idoso deve conter proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais.
“As proteínas são fundamentais para manter a musculatura. É importante tratar ossos e músculos como um conjunto que deve funcionar de maneira integrada em prol da funcionalidade global de locomoção do indivíduo”, reforça.
A perda de musculatura (sarcopenia) é caracterizada pela perda de massa, força e funcionalidade dos músculos, especialmente nos membros superiores e inferiores.
“É uma condição progressiva e silenciosa, natural do envelhecimento, que limita a capacidade de executar atividades cotidianas, além de contribuir para o maior risco de quedas, fraturas e hospitalização entre idosos, impedindo uma velhice plena e independente”, explica o geriatra Dr. João Toniolo Neto, diretor do Núcleo de Estudos Clínicos em Sarcopenia e professor da disciplina ‘Geriatria e Gerontologia’ da UNIFESP.
A recomendação de ingestão de proteína, segundo Mirian, gira em torno de 60 gramas por dia, distribuídas em três refeições ao longo do dia, para garantir a correta absorção pelo organismo.
“Hoje, o que vemos, é o jovem tirando o carboidrato das refeições e ingerindo muita proteína, e o idoso excluindo a proteína e comendo muito carboidrato. O que precisamos é ter uma alimentação saudável para idosos, equilibrada ao longo de toda a vida. E o idoso não pode deixar de ingerir proteínas, pois elas são fundamentais para a saúde da musculatura e, consequentemente, da manutenção da mobilidade.”
Segundo Toniolo, como a ingestão de proteínas por meio dos alimentos nem sempre atinge o volume recomendado, já existem produtos no mercado indicados para a suplementação, que deve ser feita com acompanhamento profissional.
Toniolo ressalta também que, associada à adequada ingestão de proteínas, a prática de exercícios físicos é fundamental para a saúde da musculatura, especialmente no envelhecimento. “Eu considero que o sedentarismo não pode ser considerado hoje um fator de risco. Ele é uma doença“, enfatiza. A recomendação é de, pelo menos, 150 minutos de exercícios físicos por semana, que aliem atividades de alongamento e força.
Alimentação ajuda no envelhecimento e saúde da pessoa idosa
Para enfrentar a falta de apetite na terceira idade, e a consequente perda da qualidade nutricional nas dietas, a nutricionista Jéssica Freitas dá algumas dicas. A primeira coisa a ser feita é avaliar a qualidade dos hábitos alimentares do idoso.
“Alimentar-se bem não significa comer muito, mas comer adequadamente. É essencial que o idoso cultive o hábito de alimentar-se de 3 em 3 horas, tanto para garantir a oferta constante de energia, quanto para facilitar a ingestão nutricional ao longo do dia. Dessa forma, é possível diversificar o aporte nutricional em pequenas porções”.
Buscando alternativas para o envelhecimento saudável
Outro ponto é trabalhar a diversidade do cardápio – buscar alternativas para alimentos que agradem o paladar: “A refeição tem que ser prazerosa, logo repetir um único alimento, além de monótono, torna-se enjoativo. Com o tempo, o prazer de apreciá-lo não será o mesmo. Diversificar as preparações também é fundamental para estimular os sentidos: ainda que o paladar esteja prejudicado, é possível estimular o olfato e vice-versa. O visual também influencia significativamente sobre o apetite”, ressalta.
Jessica alerta ainda para o fato de que alimentar-se é muito mais do que simplesmente nutrir o corpo – o ato também é de extrema importância social. “As refeições marcam importantes momentos da vida, pois através dela celebramos diversas ocasiões. Logo, a hora da refeição deve ser também um momento de interação com família e amigos. É extremamente importante que o idoso cultive o hábito de fazer as refeições acompanhado e, mesmo quando tenha dificuldades de alimentar-se, tenha companhia nesse momento, não apenas para auxiliá-lo, mas também para interagir com ele.