Onde não há desperdício não há fome

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Onde não há desperdício não há fome

O desperdício de alimentos é um assunto em constante debate e que vale, cada vez mais, estar no topo das discussões, afinal, dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo todo ano. Somente a quantidade de alimentos inutilizados na América Latina é suficiente para alimentar cerca de 300 milhões de pessoas. Quando olhamos para o nosso país, segundo maior fornecedor mundial de produtos agrícolas, as proporções aumentam: o Brasil é considerado um dos dez países que mais desperdiçam alimentos em todo o mundo, com cerca de 30% da produção praticamente jogada fora na fase pós-colheita. São 26,3 milhões de toneladas de alimentos que vão para o lixo. Somente no estado do Rio de Janeiro, 670 mil toneladas de frutas, verduras e legumes são desperdiçadas anualmente entre a produção e os pontos de distribuição. Essa quantia seria mais que suficiente para dizimar a fome dos 5.580 pessoas que vivem em situação vulnerável, em sua maioria, nas ruas do centro da cidade carioca, segundo o último censo realizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Mas, afinal, qual o motivo de tanta quantidade de alimento ser jogada fora?

As razões são diversas e, segundo a Embrapa, isso acontece em toda a cadeia. 10% do que é colhido se perde no campo, outros 50% vai embora durante o manuseio e transporte, 30% na comercialização e abastecimento, e 10% é jogado fora nos supermercados, restaurante e nossa própria casa. Vale ressaltar aqui a diferença entre perda de alimentos e desperdício. O primeiro não é intencional, causado muitas vezes pela falta de equipamentos, transportes e infraestrutura adequados. Mas o desperdício tem como causa principal os padrões de qualidade alimentar que supervalorizam a aparência dos alimentos. Existe uma cultura de que alimento feio deve ser descartado e frutas amassadas, hortaliças machucadas e legumes danificados são rejeitados sem estarem impróprios para o consumo. Além disso, a casca da banana, as folhas da couve-flor, o talo da beterraba têm destino certo: o lixo. As compras feitas para encher nossas dispensas, muitas vezes são maiores do que as bocas que alimentamos e parte dos produtos comprados vencem, estragam e são jogados fora. Isto acontece praticamente todas as classes sociais.

Para provocar uma maior conscientização em cada um de nós, surgem boas inciativas que provam que é possível utilizarmos alimentos em toda a sua capacidade, de forma criativa e saborosa. No Rio de Janeiro, enquanto mais de dez mil atletas fazem suas refeições, seis toneladas de alimentos deixarão de ter o lixo como destino final para serem utilizados em pratos preparados por renomados chefs e alimentarão pessoas em situação de vulnerabilidade social. O Refettorio Gastromotiva, iniciativa trazida para o Brasil pelos chefs Massimo Bottura (Food for Soul), David Hertz (Gastromotiva) e pela jornalista Ale Forbes, conta com o apoio de algumas instituições, entre elas a Fundação Cargill.

Enquanto experts da alta gastronomia dão o exemplo do que cada um de nós poderia seguir diariamente, vale refletirmos sobre nossa forma de consumo e, até mesmo, desafiar nossa criatividade na hora de cozinhar, transformando a tarefa do dia-a-dia em uma prática sustentável e econômica. É claro que pensar nisso diariamente é uma tarefa trabalhosa, exige adequação do paladar e, principalmente, informação. Mas, se começarmos hoje, acabaremos com o problema da fome no mundo. A própria FAO já sinalizou: se a quantidade de comida que é jogada no lixo fosse reduzida em apenas 25%, mais de 800 milhões de pessoas que correm risco de morte por desnutrição seriam salvas. Além disto, conseguiríamos alimentar a crescente população mundial sem abrirmos novas fronteiras agrícolas. Basta que cada um faça a sua parte. Vamos tentar?

* Valéria Militelli é presidente da Fundação Cargill

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